22/5/2025

Dia Mundial da Biodiversidade

Concha Chamero
Especialista em sustentabilidade

O dia 22 de maio marca o Dia Mundial da Biodiversidade. A campanha deste ano, com o tema"Harmonia com a natureza e o desenvolvimento sustentável", tem como objetivo destacar os vínculos entre a Agenda 2030 e seus Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e a Estrutura Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal (KMGBF). Ambas as iniciativas representam agendas globais que precisam ser implementadas em conjunto, de acordo com o espírito do Pacto para o Futuro recentemente adotado.

Biodiversidade: o que é e por que é importante

Para entender completamente o significado desse dia, devemos primeiro nos perguntar: o que exatamente é biodiversidade?

A diversidade biológica, ou biodiversidade, refere-se à variedade de organismos vivos que povoam a Terra, bem como às complexas relações entre eles e seu ambiente. Essa riqueza abrange tudo, de animais a plantas, de fungos a microrganismos, até as pequenas diferenças genéticas que existem entre indivíduos da mesma espécie. Inclui também a diversidade de ecossistemas - florestas, lagos, áreas agrícolas ou desertos - cada um com seu próprio equilíbrio e interações entre o ambiente físico e os organismos que o povoam.

Longe de ser um conceito abstrato, a biodiversidade está presente nos solos que cultivamos, nas colheitas que alimentam bilhões de pessoas e nos serviços ecossistêmicos que são fundamentais para nossas vidas.

Sua importância é indiscutível: a biodiversidade é a base vida na Terra. Ela molda os ecossistemas naturais, desde as selvas até as terras agrícolas, onde todos os seres vivos dependem uns dos outros para sobreviver, crescer e prosperar. Esse equilíbrio é essencial para o funcionamento das cadeias alimentares, para a qualidade do solo, do ar e da água e para a manutenção dos processos naturais fundamentais. Por exemplo, muitas plantas dependem de microrganismos do solo para crescer, assim como os insetos dependem de várias plantas para se alimentar.
A biodiversidade também é fundamental para os seres humanos: mais de 80% de nossa dieta vem de plantas e estima-se que 40% dos medicamentos modernos tenham origem na natureza e no conhecimento tradicional.

Um exemplo particularmente bom para ilustrar a importância da biodiversidade é o dos polinizadores, como as abelhas. Cerca de 90% das espécies de plantas silvestres e mais de 75% das culturas alimentícias dependem da polinização. Sem os polinizadores, os ecossistemas entrariam em colapso e, com eles, nossa segurança alimentar. É por isso que proteger as abelhas não é apenas um imperativo ecológico, mas também econômico e de saúde: na União Europeia, a contribuição delas para a agricultura é estimada em 15 bilhões de euros por ano.

Portanto, a biodiversidade não é apenas uma questão de conservação, mas também de resiliência e bem-estar. Sempre que um ecossistema é degradado, seja por desmatamento, práticas agrícolas intensivas ou mudanças climáticas, a saúde das espécies que o habitam, inclusive a nossa, está em risco. Em um mundo globalizado, isso também se traduz em um maior risco de doenças transmissíveis entre animais e seres humanos. A biodiversidade, portanto, é um bem comum e sua perda afeta a todos nós.

E justamente porque é fundamental entender o que é biodiversidade e por que ela desempenha um papel essencial para a vida na Terra, devemos investir em educação e conscientização do público. Com esse objetivo em mente, as Nações Unidas declararam 22 de maio como o Dia Mundial da Biodiversidade, uma data dedicada à reflexão, conscientização e ação para proteger o equilíbrio natural do qual dependemos. Na mesma linha, 20 de maio é o Dia Mundial das Abelhas, para nos lembrar do papel essencial desses polinizadores nos ecossistemas e na agricultura e para aumentar a conscientização sobre as ameaças a eles, como o uso de pesticidas, a perda de habitat e as mudanças climáticas. Essas duas datas nos lembram que proteger a biodiversidade significa proteger nosso futuro.

Perda de biodiversidade: uma crise que afeta a todos nós

A biodiversidade está desaparecendo em uma velocidade sem precedentes e nós, humanos, somos os principais responsáveis por isso. Isso é confirmado por um estudo internacional publicado na Nature, que analisou quase 100.000 locais em todos os continentes. De acordo com o estudo, conduzido por pesquisadores do Instituto Federal Suíço de Ciência e Tecnologia da Água (Eawag) e da Universidade de Zurique,a atividade humana causou uma redução média de 20% no número de espécies nas áreas que foram alteradas. Não se trata apenas de números: estamos falando do desaparecimento de répteis, anfíbios, mamíferos e insetos, do colapso de ecossistemas inteiros e da destruição das redes naturais que são a base nossa vida diária.

Os cinco principais fatores dessa crise são bem conhecidos: destruição do habitat, exploração excessiva de recursos, mudanças climáticas, espécies invasoras e poluição. No centro de muitos desses fatores está a agricultura intensiva, que, por meio do uso maciço de pesticidas e fertilizantes e da dependência de monoculturas, está esvaziando os campos de vida e empobrecendo os solos.

Mas as consequências vão muito além do ambiente natural e têm um impacto direto em nossa saúde, economia e segurança. Quando espécies importantes, como os polinizadores, desaparecem, a produção de alimentos fica em risco. Quando os ecossistemas são degradados, a disseminação de doenças, inclusive zoonoses, ou seja, doenças transmissíveis entre animais e seres humanos, é acelerada. A perda da biodiversidade também aumenta o custo do acesso à água potável, enfraquece as barreiras naturais contra eventos extremos, como enchentes e secas, e dificulta o desenvolvimento de novos medicamentos: lembremos que 40% dos medicamentos que temos hoje vêm da natureza.

De acordo com as Nações Unidas, uma em cada quatro espécies pode estar correndo risco de extinção nas próximas décadas. Esse não é apenas um problema ambiental, mas uma emergência social e econômica que coloca em risco o bem-estar de gerações inteiras. Deter essa perda não é uma opção, mas uma necessidade urgente.

Inovações que fazem a diferença

Em face da alarmante perda de biodiversidade, há uma necessidade urgente de soluções globais que não apenas interrompam os danos, mas também restaurem ativamente os ecossistemas. As estratégias mais eficazes incluem a proteção dos principais habitats, a restauração ecológica, a redução da poluição, o controle de espécies invasoras e, acima de tudo, a transformação do modelo agrícola.

A agricultura desempenha um papel fundamental: ela é tanto uma grande ameaça à biodiversidade quanto uma grande oportunidade para sua conservação. A promoção de sistemas agrícolas mais sustentáveis, que reduzam o uso de produtos químicos, diversifiquem as culturas, protejam o solo e promovam corredores ecológicos, pode reverter grande parte dos danos atuais.
Nesse contexto, as tecnologias digitais e as ferramentas de monitoramento estão promovendo uma agricultura mais ecológica. De fato, plataformas como a xFarm já permitem que os agricultores monitorem, analisem e otimizem cada etapa do processo agrícola, desde o uso de água e fertilizantes até o gerenciamento do solo, das culturas e da biodiversidade.

A avaliação constante das práticas agrícolas fornece informações detalhadas não apenas sobre o solo e as condições de produção, mas também sobre a biodiversidade e seu impacto no restante do ecossistema. Essas soluções digitais não só ajudam a cumprir as normas ambientais, mas também promovema agricultura regenerativa com base no conhecimento e na prevenção.

Embora seja difícil quantificar a biodiversidade com um único parâmetro, indicadores como riqueza ou abundância de espécies e níveis de ameaça são fundamentais para orientar políticas públicas e decisões comerciais.

Como parte de seu compromisso com uma agricultura mais favorável à biodiversidade, a xFarmTechnologies está desenvolvendo um módulo específico para avaliar o impacto das atividades agrícolas sobre a biodiversidade. Isso permitirá que os usuários meçam, monitorem e otimizem as principais práticas, facilitando a tomada de decisões muito mais informadas sobre o contexto. Essas inovações tecnológicas preparam o caminho para uma nova forma de agricultura: uma agricultura que não apenas produz, mas também protege.

Conclusão

Como lembra a UNESCO,"a biodiversidade é o tecido vivo do nosso planeta, sustentando o bem-estar humano no presente e no futuro. Sua conservação não é uma escolha, mas uma necessidade urgente em face das múltiplas crises que estamos enfrentando.

Comemorar dias como 22 de maio e 20 de maio é mais do que um gesto simbólico: é uma oportunidade para refletir, informar e agir. Somente com os esforços conjuntos de governos, empresas, agricultores e cidadãos poderemos proteger esse patrimônio comum e garantir um futuro sustentável para todos.

Nessa jornada, a pesquisa científica e o desenvolvimento tecnológico são aliados fundamentais. Elas nos ajudam a entender melhor os ecossistemas, identificar ameaças emergentes e elaborar estratégias eficazes de conservação e restauração. Ferramentas como o sensoriamento remoto, a inteligência artificial e a biotecnologia aplicadas aos estudos do solo e da biodiversidade abrem novas possibilidades para agir com precisão e previsão.

Somente com a combinação de conhecimento e ação poderemos alcançar um verdadeiro equilíbrio entre produção e conservação.

Bibliografia

https://www.theguardian.com/environment/2025/mar/26/human-link-biodiversity-loss-species-ecosystems-climate-pollution-eawag-study-nature-aoe

https://press.un.org/en/2024/sgsm22215.doc.htm

https://www.nri.org/latest/news/2024/world-bee-day-how-we-are-helping-protect-the-worlds-pollinators

https://epthinktank.eu/2024/05/20/world-bee-day-2024-we-all-depend-on-bees/

https://blog.mdpi.com/2024/05/22/international-day-for-biological-diversity/

https://www.unesco.org/en/days/biological-diversity

https://www.un.org/es/observances/biological-diversity-day

https://www.cbd.int/biodiversity-day

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